O 08 de março é uma data carregada de muita luta, resistência e reflexão", diz socióloga
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O Dia Internacional da Mulher, 08 de março, é marcado por homenagens recheadas de flores, banquetes e declarações. Porém, um grupo cada vez maior de mulheres celebra a data fazendo debates e indo às ruas para refletir sobre a luta feminina por uma sociedade igualitária entre homens e mulheres.
É válido dizer que a mulher é um ser político assim como os homens, ou seja, possui condições de ocupar espaços de poder e atuar na tomada de decisões. E, nesse contexto, entra em questão o Empoderamento Feminino, que muito se ouve falar, e pouco se compreende o que de fato significa. Segundo a socióloga e feminista, Ianara Evangelista, inicialmente é preciso compreender a etimologia da palavra “Empoderamento”.
“Vem do inglês "empowerment" e, quer dizer, "dar ou adquirir poder" (pessoa passiva). Paulo Freire utiliza o termo numa perspectiva transformadora, ou seja, a partir da transformação social, logo, uma mulher empoderada é aquela que, por si mesma, realiza as mudanças e as ações em sua própria vida, levando-a a sua evolução e fortalecimento pessoal e coletivo (pessoa ativa)”, explica a profissional que é mestranda em Sociologia, na linha de pesquisa "Gênero e Geração" e tem como tema central: "Mulheres em situação de violência doméstica e familiar e os ciclos de violência", numa perspectiva da ruptura deste ciclo por meio do empoderamento feminino.
Considerando os inúmeros e assustadores casos de violência doméstica, no qual, mulheres são agredidas psicologicamente e fisicamente dentro do ambiente familiar, estudiosos e estudiosas têm se debruçado sobre esse problema o relacionando ao empoderamento feminino como uma das saídas para a quebra do ciclo de violência, e à desigualdade de gênero existente, além da transformação da sociedade que ainda é vista como patriarcal.
“A cultura machista nos coloca numa posição inferior com relação aos homens. Com a naturalização dos papéis sexuais, divididos entre “coisas de meninas e mulheres” e “coisas de meninos e homens”, temos uma produção e reprodução de desigualdades, onde o poder masculino se sobressai com relação ao feminino. Mas, ao mesmo tempo, a “desobediência das mulheres” em relação às posturas e exigências dos seus companheiros, onde essas mulheres não concordam e assumem uma postura mais autônoma e para a manutenção e preservação dos padrões tradicionais de gênero , que privilegia os homens, dentro da estrutura familiar patriarcal, ocorre os conflitos domésticos e as agressões dos homens contra as mulheres. Neste sentido, o empoderamento feminino é um grande desafio às relações patriarcais, no entanto, é também o caminho para uma sociedade igualitária, onde homens e mulheres tenham voz e vez, através de ações democráticas, com responsabilidades coletivas e a tomada de decisões compartilhadas, por isso, reitero, o “machismo mata as mulheres todos os dias!”, destaca a socióloga e feminista, Ianara Evangelista.
Para tanto, Ianara explica que o homem deve se inserir nesse processo para concretização da real ideia de igualdade. “Estamos falando de uma igualdade entre os gêneros, estamos falando de toda a sociedade, ou seja, o projeto feminista pensa a sociedade como um todo e só viveremos em uma sociedade justa e igualitária quando homens e mulheres assumirem seus papéis de forma respeitosa e igualitária. Só poderemos romper estruturas, ditas “sólidas”, quando tivermos toda a sociedade envolvida neste projeto de mudança e transformação social. Como por exemplo, as tarefas domésticas precisam ser divididas entre as pessoas que residem nas casas, independente do sexo, isto é, sujou, então limpe!”, ressaltou.
A socióloga avalia que ainda é necessário avançar nesse processo de ascensão de mulheres nos espaços que geralmente são de dominação masculina e que, sobretudo, é impulsionado por uma cultura machista.
“A cultura machista está impregnada em nossa sociedade e, por meio dessa estrutura, os preconceitos e as desigualdades são produzidas e reproduzidas. Dessa forma, se compararmos com as mulheres do séc. XIX, é possível afirmar que estamos tendo uma "ascensão". Mas, se levarmos em consideração todas as conferências, plataformas, acordos e contratos internacionais e nacionais que dizem se comprometer com a pauta da igualdade dos gêneros, em especial, com a participação das mulheres nos espaços de poder e decisão, infelizmente, não temos tido "ascensão". Porém, é inegável dizer que não avançamos, só que em passos lentos. Somos a maioria nas escolas, nas universidades e nos cursos de qualificação, porém, ainda temos os menores rendimentos, nas mesmas funções. Contudo, só teremos uma construção democrática e cidadã com a presença e a participação ativa e efetiva das mulheres, assumindo um caráter crítico, propositivo e transformador das estruturas institucionais, por meio de políticas públicas que estimulem a igualdade de gênero”, ressalta.
Sobre o Dia Internacional da Mulher, 08 de Março, Evagelista destaca que a data é simbólica, e remeter às flores e demais presentes não é errado, mas primordialmente é um momento de reflexão.
“O 08 de março é uma data simbólica, carregada de muita luta, resistência e reflexão sobre a nossa situação enquanto mulheres. Infelizmente, as propagandas mercadológicas associam a nossa imagem às flores, aos presentes, reforçando os estereótipos de feminilidade, numa tentativa de nos tornar “frágeis”. No entanto, não sou contra as flores e nem aos presentes, acho que devemos ser presenteadas todos os dias do ano. Mas, acredito que esse é um dia de fortalecermos a nossa luta (a luta das mulheres). Neste ano, o movimento feminista e de mulheres estão organizando uma Greve Internacional de Mulheres, contra os retrocessos. Portanto, quero fazer o chamamento para nos unirmos nesta ação no dia 08 de março e aproveito a oportunidade também para reiterar uma campanha do ano passado: “Não quero flores. Quero respeito!”, disse.
Dia Internacional da Mulher
A data surgiu a partir das manifestações das operárias grevistas, no final do século XIX e início do século XX, por melhores condições de trabalho e igualdade de direitos. Em 1910, durante a 2ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em Copenhague, na Dinamarca, Clara Zetkin e outras militantes apresentaram uma resolução (e que não fazia nenhuma alusão ao dia 08 de março) com uma proposta para a instituição oficial de um dia internacional das mulheres, todavia, o 08 de março só foi definido oficialmente em 1922.
Ianara Evangelista - socióloga e feminista
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